O que se faz no entre
[...] vulcões cessam, e estar acordada é / mais encantador do que sonhar. (Dione Brand)
Antes de começar, um pedido: elaborei um censo para entender melhor quem me lê por aqui. A participação é anônima e sua ajuda vale mais que ouro. É rapidinho, nesse link. Agradeço desde já! ♥
Os últimos textos dessa newsletter foram escritos com muita dedicação, gastei bastante tempo, afinando sua forma e conteúdo. Essa é a principal meta do ano com as publicações por aqui, é um novo compromisso que assumi no meu processo como escritora. Neste fevereiro de 2024, a newsletter completa três anos de existência! Três anos de insistência na escrita autoral e criativa, sem formato definido, sem pautas a cumprir, buscando meu tom. Conforme anuncio na aba <sobre>, escrevo sobre o que encontro pelo caminho: divagações, histórias reais, livros e outras coisas bonitas. Tem funcionado, ao menos como exercício para os músculos do pensamento e das mãos. Há três anos, sigo sentada em frente ao computador tentando falar com você que me lê aí do outro lado, mas, sobretudo, falar comigo mesma ao longo do tempo.
E não foi só de newsletters que minha escrita viveu nesses anos. Lancei dois livros de poesia, participei de coletâneas, concursos, antologias, newsletters alheias, podcasts, saraus, feiras literárias, cursos online e oficinas presenciais. Uma escritora se faz com muitas camadas, somos pessoas croissants. Essas camadas não se constroem sozinhas, tem muito trabalho envolvido, tem pesquisa, tem tentativas frustradíssimas, tem críticas duras, tem uma insistente & ridícula vontade de desistir… Por outro lado, tem acima de tudo uma curiosa e imperiosa coceirinha na ponta dos dedos que me joga de volta pro teclado e ordena: escreva. Cá estou eu, mais uma vez, obedecendo.
É difícil admitir, mas estou em crise em relação a publicações. Meu segundo livro é recente e depois que ele se materializou, um segundo e mais trabalhoso momento começou. Na vida de quem escreve e publica livros, o trabalho não termina quando o livro chega da gráfica, pelo contrário, é como se tudo estivesse recomeçando. É preciso trabalhar o livro, fazê-lo circular e como fazer isso ainda é meio misterioso. Eu sei que existem muitas <fórmulas de lançamento> e eu passo todas elas, obrigada. Tenho experimentado seguir dicas e orientações de outras autoras independentes, que, assim como eu, estão desbravando o selvagem e elitista mundo da literatura. Quando Primeiros Pedaços foi publicado, no primeiro semestre de 2022, eu ainda me sentia bastante crua e perdida. Saber o que fazer e como fazer não era impossível, pois grande parte da estratégia em espalhar sua palavra se resolve com dinheiro. Tendo muito caixa pra investir, você consegue se espalhar – o que não quer dizer que vá ser lida. E esse é outro objetivo importante: construir um público leitor.
Neste sentido, é ingrato escrever poesia. Por ser “rápido” de ler, coisa que eu absolutamente não concordo, muitas pessoas, ao terminar de ler, logo dizem: e aí, quando vem o próximo? Eu, que mal tive tempo de compreender que aquele livro (que também mora em mim!) finalmente é um objeto no mundo real, me sinto tonta, bêbada e perdida com confusas emoções. Que bom que estão me lendo!, sorrio, emocionada. Será que realmente estão ME LENDO?, desconfio levantando a sobrancelha. Sei que não existe um modo correto de se ler – os críticos literários que debatam nas tumbas! – mas o ritmo como temos lidado com a vida inevitavelmente chegaria ao modo como nos encontramos com a literatura. Escrever a newsletter me ensinou bastante sobre escrever e ser lida. Graças ao tempo de leitura um pouco menos imediato que este formato permite, a pressão em produzir se dissipa na liberdade de criar e experimentar. O fato de que quem assina pode ler no seu próprio tempo também desarma o público leitor e abre espaço para uma leitura diferente de um post no instagram ou a atenção picada de três segundos num vídeo de tiktok. Valha-me deus, como estamos sobrevivendo? Contra tudo e conta todos (os bilionários), estamos.
Não tenho pretensão de publicar um novo livro em 2024. Essa frase sai de meus dedos com prazo de validade e na semana que vem pode ser que eu esteja animadíssima e resolva editar material bruto, catando jóias entre incontáveis rascunhos. Mas não é porque não tenho esse plano específico que escrever esteja fora das metas; como anunciei na abertura deste texto, em 2024 estou comprometida dos pés à cabeça com a escrita, principalmente no que diz respeito ao estudo. Ao contrário da crendice popular, de que quem escreve tem dons divinais, o texto só fica bom com muita dedicação, estudo, tentativa, e muitos, muitos erros. O percurso que construí pedra por pedra é longo e continuar na obra dessa estrada faz cada dia mais sentido porque a escrita produz encontros comigo mesma e, desde os antigos blogs nos anos 2000, com generosas pessoas, como vocês, que me lêem. Essa é uma edição comemorativa, meio esquisita, meio calabresa. Se você olhar de perto, esse é o meu jeitinho. Obrigada por estar aqui!
Drops:
Dia 26/02 teremos o segundo encontro do Clube do Livro Quem Quer Ler, com Água Funda, de Ruth Guimarães. A participação é gratuita e as informações estão aqui.
O primeiro texto da news em 2021
Sobre escrever em 2022
Ler sobre escrever em 2024
Luisa Manske e o tempo da digestão das coisas
Surina Mariana e a descentralidade
Aline Valek, que me inspirou a começar uma newsletter (e não apenas!), fez DEZ anos da sua
Jana Viscardi, que eu admiro muito, lança seu primeiro livro e é sobre escrita
Esta newsletter é revisada pela jornalista e poeta Luiza Leite Ferreira
Se gosta do que escrevo:
apoie continuamente através dessa plataforma
presenteie com um pix em oi.pmescreve@gmail.com
espalhe a palavra da news para sua rede
Um abraço e até a próxima edição,
paulamaria.