Em 2023, os envios extras e exclusivos eram entrevistas com pessoas escritoras da newslettersfera, no suplemento Caderno de Perguntas, em referência à brincadeira pré-adolescente. Essa nova versão segue uma ideia que tenho desde o começo da graduação em Letras, de dividir meu aprendizado com vocês, trazendo pequenas lições de Português e curiosidades do mundo da literatura, linguística e afins. A edição extra para apoiadores será uma vez por mês e custa apenas R$7 mensais ou com desconto no plano anual. Considere a assinatura paga :)
Março chega ao final, ufa! O outono desponta e o calor arrefece, as paisagens começam a mudar e a gente sente que o ano está engrenando. Neste mês trouxe textos não obviamente ligados ao “mês da mulher”, mas que de certa forma pincelassem temas que me encruzam. A disponibilidade da escuta, o corpo que desliza e o olhar que nos protege. Agradeço a todas as trocas via comentários ou e-mails, escrever sobre essas coisas nem sempre é tranquilo ou confortável. Obrigada pela leitura e carinho. Aqui sigo com uma última reflexão, o texto que postei no instagram para o dia 08 de março:
Ainda tento compreender minha raiva. Posso correr cinco quilômetros, posso levantar doze quilos no supino, posso andar metade da cidade, escrever dois livros, passar no vestibular de novo, saber cozinhar costurar bordar, ter amigos de uma vida. Nada ameniza a raiva. Ouço, desde que sei o que é ouvir, que sou brava, brava demais e variantes do mesmo tema. Nervosinha é o clássico. Por dentro, eu repito pensamentos persecutórios a exaustão. Por fora, destruo meus dentes roendo durante a noite, perco sono, tremo os olhos, choro menos do que já chorei. É difícil se educar sobre o mundo, difícil dizer que a culpa não é sua se tantas vezes, inúmeras, incontáveis, repetidas vezes eu ouvi que o problema era eu. Todo oito de março me dá muita raiva, eu lembro de tudo que nunca esqueci, eu sinto fome e sede de vingança, revejo imagens como um projetor na sala escura. Eu quero chorar, mas desde que adulteci ele é cada dia mais raro, acho que as lágrimas cansaram, se ofenderam de tsnto julgamento. Chorar ainda é o que resta para muitas meninas e mulheres e é muito triste quando até isso a gente perde. Eu sinto raiva por mim e por muitas de nós, mas não posso dizer que sinto todas as dores do mundo. É mentira. Mal mal sinto por mim, porque no fim das contas muita coisa eu ainda não entendo e de outras eu duvido. Crescer a partir da negação: você não pode, você não vai, você não é. Você não sabe nada da vida, paulamaria. Pelo menos não desisti de tentar descobrir.
Há duas semanas vivi algo muito desagradável na USP. Um professor proferiu uma dezena de declarações preconceituosas acerca do que é arte – e também o que é literatura e o que é poesia. Segundo a figura, existe arte e artesanato, literatura e “literatura”. Argumentos misóginos, classistas e racistas embasam sua retórica. É o tipo de professor polêmico, que gosta de frases de efeito e gracinhas para conquistar alunos que ainda são bem novos no mundo (cão) acadêmico. Sua identidade será preservada porque vivemos no mundo em que processinhos perseguem aqueles que expõe obviedades, mas fica o meu registro de incômodo e indignação. Aproveito o ensejo indignado para compartilhar, nessa edição do Caderno de Anotações, um dos trabalhos de literatura que escrevi no ano passado.
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