O dia seguinte - um ano depois
🎶Oh, it's my party, and I'll cry if I want to / Cry if I want to (Lesley Gore)
Plantar uma árvore, ter um filho, escrever um livro. Sabe-se lá como esta bucket list apareceu, atribuÃda ao poeta cubano José Martà sobre as realizações de um ‘ser humano completo’. Algumas plantas já espalhei por aÃ, nem sempre árvores, mas outras colegas do reino vegetal - já cultivei inclusive feijões num vaso dentro do apartamento. Filhos – um assunto menos fértil e mais arenoso, terreno que parece fofo e conhecido, mas provavelmente cansativo, que me levaria à exaustão mental e fÃsica. Talvez um outro dia me debruce sobre a não maternidade por aqui, sob o risco do cancelamento, da má interpretação e até do hate. Um assunto que claramente não me prevê bons frutos. Chegamos então ao livro, assunto cerne deste texto, na tentativa de elaborar e celebrar um ano da publicação dos meus ‘Primeiros Pedaços’.
Confesso que por mais desejado que tenha sido este momento, da minha primeira publicação através de uma editora, o que aconteceu neste ano era difÃcil de prever. Não poderia saber que após a abertura da pré-venda, tantas pessoas comprariam o livro. Não sabia que quando os exemplares chegassem até as pessoas eu teria um mini-surto e me sentiria vulnerável ao ponto de pensar em recolher os exemplares e não ser mais lida. Também não contava com minha professora do primário comprando, lendo e se emocionando. Não pude prever o pavor de fazer um lançamento ao ponto de nunca de fato fazê-lo – o fantasma das festas de aniversário que ninguém aparece e resta aos pais consolarem a criança triste em torno dos balões. Não consegui imaginar pessoas além-mar que gostariam de me ler e que deram um jeito de viajar o livro até lá, na mala de alguém ou pelos correios. Cheguei aos Estados Unidos, à Alemanha, a Portugal e à Austrália. Fiz lives, publiquei vÃdeos, participei de clube de leitura, eventos de literatura e ganhei até uma curtida do Carrascoza.
Meu livro também me levou pela primeira vez à maior festa literária brasileira na companhia de grandes mulheres escritoras, muitas também pela primeira vez, num encontro presencial e mágico pelas pedregulhosas ruas de Paraty. Presenteei uma dúzia de exemplares com a intenção de espalhar os pedaços além da bolha e fui acolhida com carinho e admiração por pessoas que doaram um pedaço dos seus espaços para que eu pudesse ser lida por ainda mais gente. Vale dizer que também fui ignorada e esnobada em muitas ocasiões – algumas ainda me suscitam porquês sem resposta (sim, faço terapia, mas também é preciso cultivar um tico de vaidade e esperteza no mundo literário). Com meu primeiro livro, conheci muitas outras mulheres como eu, com seus primeiros pedaços tão honestos, fortes e corajosos. Aprendi, nesses doze meses, que escrever e publicar um livro é produzir um outro rosto para a minha cara, que então é meu e também deixa de ser. Que ao me abandonar, pode viajar por aà e compor com os rostos e pedaços alheios. Que meus versos já não são meus e sim do tempo, que me toma essas palavras com meu aval e endosso do meu desejo de não desaparecer.Â
Este novo rosto volta para mim com uma força estranha e me pergunta coisas que nem sempre consigo responder. Uma das questões, que grudaram e fizeram coçar, foi sobre o lugar da palavra na minha vida. Eu, que por tantos anos persegui a palavra no ofÃcio da escuta ativa, qualificada e presente, agora precisava de outro-mar. A palavra me trouxe, junto com um novo rosto, a necessidade de seguir outras coordenadas. Escrever um livro me levou de volta ao vestibular, vinte anos depois. Sentar na cadeira da faculdade de Letras também é um espólio-presente do meu livro. É estranho observar como, em alguns momentos, congelamos nossas decisões como se fossem eternas, selamos um destino e seguimos a reta – como se fosse possÃvel evitar as curvas. Quando se dobra a esquina, independente de ir ou voltar, o caminho jamais será o mesmo. Uma árvore, um filho, um livro. Não tenho ideia de como teria sido minha vida se tivesse seguido à risca a bucket list do poeta, sei, e pouco sei, do que vivi até aqui. Um ano depois, eu quero é bolo e cantar parabéns.
Obrigada por me ler. Sem a leitura, a escrita pouco importa.
Leia a edição na época do lançamento do livro:
Para ler ou comprar Primeiros Pedaços você pode:
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Agradeço a todo mundo que me fez chegar aqui e que me Opermite continuar!
um abraço e até a próxima edição,
paulamaria.
Parabéns pelo aniversário! E quero comprar a edição fÃsica, leva no próximo encontro de escritoras? :)
Que coisa boa, super parabéns por todas essas conquistas, Paula! E já curiosa com o seu livro, eu adoraria comprar um! Depois me conta como a gente pode fazer :)