Nostalgia não é novidade pra quem me lê por aqui, é quase um traço de personalidade, é a roupa que mais repito, é meu hábito favorito. E dos comportamentos mais nostálgicos que tenho é escrever cartas à mão e enviar pelos Correios. Costume que cultivo desde a infância, fortalecido na adolescência e que cava espaço ano após ano, sobrevivendo à todos os avanços tecnológicos na comunicação de longas distâncias. Escrever cartas é um modo de encapsular o tempo, enviar uma mensagem na garrafa, que o conteúdo pode importar menos do que a viagem até o destinatário. E que delícia tem sido viajar todos esses anos nessa insistência.
Em 2017, transformei o hobby em projeto e elaborei o Te escrevo cartas. Fiz perfil no instagram e alguns conhecidos e amigues passaram a seguir. Por questões de força maior, à época não consegui dar prosseguimento ao projeto nas frentes que planejei, e então ele ficou lá, adormecido por alguns anos. Eis que em 2021, com a pandemia em alta e o coração apertado, resolvi retomar o perfil e aos poucos chegaram mais pessoas e com elas o movimento. Transformar um hobby em projeto pode ser um erro porque pode acabar matando o desejo, mas nessa retomada o sentimento foi outro: senti que podia chegar ainda mais longe.
Nesse movimento, esbarrei num edital de publicação específica para cartas. A Editora Claraboia publicou chamada de cartas para a pandemia e logo meus olhos brilharam. Escolhi uma folha na coleção de papel de cartas, escrevi e enviei, sem pensar demais. Eis que a provocação inspirou a Editora a transformar a chamada em livro e meu primeiro texto publicado em livro, quem diria, foi uma carta. Recentemente participei, em outra primeira vez, do lançamento da coletânea “Cartas para o futuro”, pelo Selo OFF Flip. Minha carta, intitulada "Entre 24 anos", você encontra na página 117. Quem diria, outra carta, outro livro.
Muitos caminhos tem sido possíveis através das cartas. Em cada envelope, uma surpresa me aguarda. Recebo pequenos tesouros, como adesivos, fotos, desenhos, junto às notícias escritas à mão. Sinto que posso tocar em pedaços de quem me escreveu, enquanto passo, vagarosamente, os olhos no papel marcado de caneta. Nos períodos sem receber nenhum bilhete, que podem ser de meses, me ponho em cheque a pensar se estou fazendo algo de errado ou como faço para finalmente acertar e ‘dar certo’. Esbarro na obsolência das coisas que eu tanto gosto e desanimo um pouquinho… Até a próxima carta passar por baixo da porta da sala de casa. E o sentido abraçar meu desalento com o cheiro que só a nostalgia tem.
O final do ano se aproxima (já comi meu primeiro panetone) e a tradição mais perene na jornada das cartas vai tomando forma: começo a rascunhar o cartão de final de ano que envio religiosamente entre novembro e dezembro. Já enviei cartões com artes prontas, já pintei um a um com aquarela, já mandei produzir na gráfica com arte própria. O envio é aberto a todas, todos e todes: é só manifestar desejo. Ainda não sei o que aprontarei nesse ano, sei que me sinto que estou mais animada do que nunca. Se você quiser receber esse carinho à moda antiga, envie seu endereço completo para teescrevocartas@gmail.com <3
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Um abraço e nos vemos na próxima edição,
paulamaria.
Sou a pessoa dos cartões de festejos de fim de ano até hoje. Escolho a arte de acordo com a pessoa, escrevo a mão um a um; geralmente entrego pessoalmente, mas já enviei via correios. Amo esse movimento, Paula.
Já mandei/recebi muitas cartas, mas com o tempo e a internet abandonei o hábito. Ler seu texto me deu até uma saudade!