Olá leitores!
Chegamos a carta número dez. Confesso que achei que ia alcançar esse número um pouco mais cedo esse ano, mas o fato de continuar constante na escrita e de ter aumentado consideravelmente o número de assinantes nos últimos meses me deixa super contente e animada. Obrigada a todos vocês!
Nessa semana resolvi faxinar parte da minha vida virtual e nessa arrumação acabei visitando meu blog que mantenho com certa frequência desde 2008 (!!!). Nessa visita, decidi fechá-lo temporariamente, quero fazer uma curadoria dos textos que ficarão públicos e outros que não fazem sentido de compartilhar mais nesse mundão maluco. Nessa mesma toada, fiz algo que já me deixava intrigada há alguns anos: apaguei todos os meus tuites. Estou na rede do passarinho azul também desde 2008 e entre reclamações, links interessantes e memes, também tinha muita groselha e absurdos desnecessários por lá - afinal de contas, a gente segue aprendendo na vida. Sinto uma paz gigante depois de tomar essa decisão, a internet é um lugar muito diferente de treze anos atrás e eu também não sou mais aquela jovem... Ufa!
Nessa auto-curadoria do blog, escolhi um texto para compartilhar na news de hoje, como forma de celebrar a carta n.10 e também como lembrete de que essa paulamaria escritora já arrisca há tempos suas palavras ao vento. A postagem se chama “Um medo por vez” e foi publicada em primeiro de abril de 2015.
Acordei com alguns emails na caixa de entrada. Muito mailing de propaganda, sempre. Mas também muitas newsletter de sites que prefiro acompanhar por ali, já que podem aguardar pacientemente a minha leitura, sem se perderem numa timeline que muda totalmente em uma hora, como acontece no facebook ou twitter. O email espera. E preciso um pouco de coisas, pessoas e situações de espera, calma e pausa.
Em um dos links “da espera”, veio um e-mail do The Book of Life, um projeto patrocinado pelo maravilhoso The School of Life. É um livro online, de acesso integral e gratuito, que vai sendo construído aos poucos, tendo sempre novos textos inseridos dentro dos temas pré-estabelecidos, ou, como eles mesmos resumem: “our collected thoughts and theories” (nossa coleção de pensamentos e teorias). Os temas de conteúdo do livro são divididos por capítulos: 1.Capitalismo; 2.Trabalho; 3.Relaciomentos; 4.Self; 5. Cultura; 6.Currículo. Dentro ainda deste capítulo temos subdivisões mais específicas. Enfim, vale uma explorada boa e demorada, uma “folheada” mesmo neste livro rico e gostoso de ler.
No e-mail desta semana, um texto me saltou os olhos: “How to Dare to Begin”. Parecia uma mensagem subliminar, dessas que às vezes chegam da Miranda July pelo meu cadastro no oráculo do The Future. Fiquei um pouco abismada com o tema, meio hipnotizada com a palavra DARE. Me senti convocada, instigada, desafiada. Pelo menos a ler o texto (shame on me).
O texto explica que, em geral, nosso medo de começar está ligado à mania de frustar a perfeição. Não tentamos por ignorar que são necessárias muitas tentativas para alcançar o que desejamos. Vemos um quadro do renascentista Rafael Sanzio e imaginamos que sua “genialidade” se materializava em suas obras por algo quase que divino, por iluminação, por um dom inalcançável. Ignoramos o fato de os rascunhos fazem também parte daquela obra que hoje apreciamos nas paredes do Louvre e uma das dicas para liberar nossas energias produtivas – que nos impedem de nos lançarmos aos desafios – é ao invés de visitar “a galeria”, visitar “o atelier”.
A dica que mais me tocou, no entanto, foi a última. É uma dica breve, pouco explorada ao longo do texto, mas extremamente inquietante:
Quatro: Investigue as suas preocupações de forma exaustiva
Perfeccionismo dá origem a preocupações. Se eu começar, eu vou cometer um erro e em seguida algo terrível vai acontecer. Dentro da cabeça de um há meio-temores, que percorrem longos caminhos, tais como: se eu não realizar a apresentação exatamente correta, eu posso na realidade nunca ter de fato conseguido realizá-la. Se eu não escrever o relatório ideal, nunca serei sócio.
Leve seus medos de maneira muito a sério, anote-os. Investigue o quanto de verdade existe neles. É de fato verdade que o único caminho possível para se tornar um sócio da empresa é sempre escrever relatórios perfeitos? Você de fato vai ser demitido se a apresentação é apenas muito boa e não brilhante?
Nossas mentes são profundamente irracionais na forma como elas geram medos. Anote suas ladainhas de terror e, em seguida, a submeta a uma análise racional e benigna.
Tenho passado por situações que me deram uma sensação de identificação imediata com esse parágrafo. Há semanas tenho uma aba salva no favoritos para me inscrever em uma vaga de emprego em uma rede social. Nunca trabalhei com nada parecido antes, me sinto incapaz por diversos motivos e todos esses medos me travam de modo que consigo olhar pr’aquela aba por horas sem jamais abrir. Fiz mestrado sobre tecnologia, amo internet, sou bastante conectada e interessada em ler sobre o assunto e produzir conteúdo, tenho vários amigos inseridos neste mercado de trabalho. Mas nada disso me dá a confiança suficiente para acreditar que consigo tentar (!). Veja bem: é o medo de tentar que me segura. E é nele que estou tentando focar neste instante.
A ansiedade tem tomado conta desse corpo fortemente há alguns dias já. O medo de tentar está estagnando até mesmo coisas sutis do dia a dia, atrapalhando meu sono, pesando minha respiração e até mesmo embaçando minha visão (pra valer!). Um medo por vez. Fico repetindo este mantra, pausando a respiração, enchendo bem toda a cavidade toráxica, expandindo meus pulmões e minha bacia. Ainda confusa, ainda acuada, mas repito até conseguir acreditar. Algumas coisas carecem de costume, sabe? Preciso experimentar a estranheza de enfrentar um medo por vez, a estranheza de enfrentar um medo encarando-o de frente mas sem forçar a me tornar outra pessoa da noite pro dia. Pesadamente dar meus passos de calma e aceitação dos limites, tentando aumentar aos pouquinhos a borda, como ao abrir uma massa de torta… Sem despedaçar.
Sigo no dia de hoje, na tentativa de aceitar que eu posso conseguir aquilo que almejo. Talvez eu não consiga, mas eu posso. E que para poder, eu preciso tentar. Anteriormente então, eu preciso quebrar a barreira da tentativa.
E você,me diga: qual é o medo da vez?
Esse texto ainda diz muito sobre mim. E a propósito, não tentei a vaga na rede social citada, que era o Twitter. Essa coragem nunca chegou.
Você já ouviu falar na curiosíssima Maratona do Beijo? Vale a pesquisa, tem doc no Youtube!
Nós capixabas e a obsessão com pedras, daqui.
Aline Valek lançou um curso do Domestika e claro que tô lá. Vem também!
Você pode me apoiar como escritora no Apoia.se ou com um cafézim no kofi.
Um abraço e nos vemos na próxima edição,
paulamaria.