Em tempos de separação entre pessoas emocionadas e indiferentes, escrever sobre afetos parece bater numa tecla gasta, tipo o meinho do ‘espaço’ do seu teclado, sabe? Verifica, olha lá, o centrinho dele é lisinho, tenho certeza. Talvez o exemplo não tenha sido dos melhores, eu sei. Culpo esse hiato criativo pós-mudança, que se relaciona também com o assunto da news de hoje. Vamos lá? Ah, e mesmo com um mês de atraso, feliz ano novo para nós!
É sexta feira, o dia em que a bateria pessoal está em modo economia de energia. Tive uma noite agitada, calafrios estranhos e o pensamento recorrente: é covid ou qualquer outra coisa? Os primeiros raios da manhã cortam as nuvens cinzas de sampaulinha e desisto de lutar contra o sono. Pego o celular e uma mensagem no zap me chama atenção. Não tinha um “oitudobem” introdutório, daqueles que irritam algumas pessoas do time ‘diga-me logo o que cê quer’. Era daquelas gostosas e que anunciam uma boa conversa. “Acabei de ler o seu livrinho”. Digaí se não é pra recarregar as energias automaticamente? A mensagem desembolou num papo sobre auto-exposição, afetos, amizades e reciprocidade. E me deu vontade de vir escrever aqui.
Não sei vocês, eu do lado de cá continuo gostando muito de conversar com as pessoas e sinto demais que às vezes só tenha a rede social para isso. Ainda vivemos em pandemia e agora, para mim, a distância física de algumas pessoas importantes aumentou. Entendo que para muita gente o contato virtual tenha passado do limite com homeoffice e o teletrabalho, porém quando esse tipo de carinho chega acendendo a tela, meu coração sorri com muita vontade. Acredito no bom uso das redes - tem dias que acho impossível também - e também acredito que estamos, todos, precisando de muito carinho, seja você uma pessoa ‘emocionada’ ou ‘indiferente’.
Quando eu era jovem, digo, mais jovem do que agora, o termo emocionada ainda não existia. Era mais comum falar ‘você é uma pessoa intensa’, sabe? Se eu tivesse saindo da adolescência hoje, com certeza seria do grupo das emocionadas. Não nego afeto a quase ninguém e me apaixono mais fácil do que os viralata caramelos espalhados por aí. Quando me apaixono, abro uma porteira de felicidade besta, do sorriso fácil e da vontade quase incontrolável de caçar características admiráveis no outro. E, veja só, não é só com crushes ou pretensos namoradinhes que isso rola. Começo de faculdade, amizade, crush, namoro: olha lá, a emocionada. Parece droga (diz a ciência que é mesmo!). Nos começos relacionais, costumo tratar com pequenos presentes, cartinhas, postagens em rede social e uma vontade inescrupulosa de descobrir o mundo juntes. Bem na toada de ‘vamos viver tudo que há pra viver, vamos nos permitirrrrrrr’.
Os tempos endureceram, o mundo foi ficando um tico mais complicado e eu menos ignorante - e todo mundo sabe que ignorância pode ser uma bênção. Aí não teve muito jeito, de certa forma endureci também e vou com mais calma com o pé no acelerador. Quem chega de pertinho diz que ainda sou emocionada, uma grande entusiasta de pessoas e encontros - alô psicologia! alô Spinosa! E apesar de estar menos mole, o espaço para a indiferença nunca chegou. Indiferença é um troço que me assusta profundamente, treino meu olhar para que caso se ela se aproxime, que eu consiga fugir, sem pestanejar. Parte disso porque gosto de carregar umas tralhas sentimentais e parte porque não acredito que cultivar esse sentimento me faria uma humana melhor. Então talvez eu prefira ser emocionada e viver os efeitos colaterais dos sentimentos do que passar por cima deles e provar que não me importo.
Cabe fazer uma ressalva, caso alguém tenha me entendido mal até aqui. Ser emocionada significa inclusive sentir raiva, rancor, vergonha, por vezes até ódio. A Gaía enviou um conto na news de hoje sobre rancor, que conversou com algumas histórias pessoais, acho que você também pode se identificar. Os sentimentos “feios” são importantes e inevitáveis, mesmo que o pessoal da positividade tóxica a qualquer custo te diga o contrário, ok? (insira seu meme do herdeiro do silvio santos aqui, eu não assisto BBB, só colateralmente pelo twitter). Com raiva ou com amor, eu escolho o lado da emoção.
eu também já fui emo, essa história você pode ler no meu livro, que está em promoção!
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Um abraço e até a próxima,
paulamaria