Os últimos meses foram muito importantes para mim. Movimentos de propulsão apareceram de todos os lados e projetos que eu desejava e construía há tempos foram tomando forma, corpo e alguns até mesmo vida própria e já andam pelo mundo afora. Não posso dizer que 2021 está sendo um ano bom, seria surreal da minha parte nesse cenário catastrófico de uma brasileira no Brasil... Preciso, contudo, afirmar que contorno 2021 com suavidade em direção a caminhos diferentes do que tracei até aqui. E esses caminhos vem se apresentando cheios de desejos realizáveis. Acho que contei em alguma carta passada sobre meus percalços e desencontros recorrentes na última década. Se não contei, é assunto pra outro dia; o importante agora é passar uma canetinha piloto e marcar com afinco essa curva que está se desenhando a medida do meu deslocamento, ora mais lento e cauteloso, ora mais afobado e empolgado. Essa curva eu chamo de “o desvio para a coragem”.
Na toada dos meses desenhando novos caminhos, bordei um pequeno bastidor com dizeres em linha vermelha, por cima de um degradê pintado em aquarela. Escrevi, em letra bastão e à mão livre, 'coragem querido coração' e cada palavra ocupa uma linha imaginária, cada letra foi fincada delicadamente com os pontos atrás, na tentativa suave e dedicada de acreditar profundamente no que eu estava dizendo a mim mesma. Posso dizer que este bordado conversa com outro trabalho de três anos atrás, quando a palavra coragem aparecia sozinha no meio do tecido, emoldurada por arabescos de ponto correntinha verdes e um coração em ponto cheio. Este bordado também apareceu num momento em que eu construía outra curva na estrada da vida, num ímpeto de necessidade em trazer para o concreto o que já permeava meus sentimentos.
Assumir que sou uma pessoa corajosa é uma tarefa árdua e acredito que perene. Não me sinto confortável com este rótulo, por vezes me avalio se realmente tenho coragem ou sou irresponsável, maluca ou até mesmo covarde. Talvez corajosa não traduzisse exatamente o sentimento que mora aqui dentro... Se não corajosa, qual o adjetivo que me faz ser a pequena engenheira de estradas que planeja e constrói curvas quando precisa mudar de rumo? Uma outra palavra me encontrou dia desses e nessa senti mais confiança: indômita. Acho que a ouvi pela primeira vez no filme “bravura indômita”, que é quase uma redundância em significado. a tradução do título original true grit, seria verdadeira coragem, mas por algum motivo bravura indômita é como encontramos no português-br. Me parece que corajosa e indômita então podem ser sinônimas, mas não dizem exatamente a mesma coisa. Para quem traduziu também.
Digo ao meu coração que tenha coragem. Digo a mim mesma que sou indômita. Tenho alguns lemas que carrego comigo. Vou aos poucos conseguindo dar palavras para eles, que muitas vezes me acompanham há tempos em gestos e sentimentos, mas nem sempre tem uma forma definida. Um lema importante, que defini no ano passado é 'faça suas coisinhas'. Não quer dizer exatamente um imperativo para que você tenha um hobby, mas pode ser. Não é também um “trabalhe com o que você ama”, mas também cabe. Você também não precisa comprar nada para começar mas pode precisar se quiser. É mais simples do que parece e explicar pode complicar. Se você me segue em algum dos meus instagrams (outro dia tento explicar essa fragmentação), acho que consegue entender melhor do que estou falando. Eu vivo por fazer minhas coisinhas e nem sei como isso começou, só sei que não consigo parar e entendi que não quero porque preciso delas!
Comecei este texto dias atrás e ainda agora fiz minha página de financiamento coletivo para dar suporte ao meu trabalho de escritora. Contar isso para vocês me dá frio na barriga, um quê de impostora aparece cutucando meu ombro, uma vergonha - tipo mico - me acomete de leve… Deixo essas sensações chegarem a as assumo para vocês, porque alguém tem que dizer que nada disso é natural! Sei que não sou inédita no assunto, me vejo mais como alguém que engrossa o coro de muitas escritoras e artistas que me inspiram e que botam pra jogo suas fragilidades como ferramentas de construção de si e de suas carreiras. Que minhas singelas palavras possam também inspirar outras pessoas que me leem a #fazersuascoisinhas. Se quiser conhecer a página e apoiar financeiramente meu trabalho, é aqui ó: https://apoia.se/pmescreve. Obrigada a todes vocês, de coração. Domingo eu faço 35 anos e estou em paz. Há vida depois das curvas, acredite. ;)
Sônia Gomes e sua casateliê;
Mini-lab gratuito sobre texto de artista e portifólio, com Ane Valls e Talita Trizoli;
Isabel Carvalho, minha profa preferida de História da Arte, tá com curso gratuito pelo Sesc Rio;
Devendra Banhart lançou duas músicas lindíssimas aqui.
Você conhece meu trabalho como artista visual? Por enquanto, tô só no instagram.
Um abraço e nos vemos na próxima edição,
paulamaria.