Hoje temos uma edição <especial> que interrompe nossa programação. Há três anos organizo uma espécie de <amigo secreto> entre pessoas que escrevem newsletter. É tipo uma festa da firma, mas com melhores intenções e nenhuma obrigação de participar: vem quem quer, o formato do presente fica ao critério de cada pessoa e ao final todo mundo sai com uma mesma coisa: uma cartinha eletrônica para chamar de sua. Edições anteriores podem ser conferidas aqui e aqui.
Esse ano a minha carta presente é para alguém que me trouxe nostalgia. Tenho que confessar que não precisa de muito para que isso aconteça, caço pedaços do passado até onde não tem, mas aqui cabe uma pequena historinha. Nos tempos dourados dos blogs no Brasil, no começo dos anos 2000, escrevi em alguns. Tenho uma baita dificuldade de organizar minhas ideias num lugar só e a compartimentação proporcionada pelos <perfis> on-line não me ajudou muito: tive mais de um orkut, cerca de quatro blogs, tenho quatro contas de instagram ativas. Ser uma criatura de muitos interesses parece difícil de conciliar e penso que a internet também colaborou para que eu me dividisse: para cada <área> de atuação/interesse, eu deveria ser criar uma nova <página>. Pois bem, isso vem desde aqueles tempos, quando num blog eu postava apenas poesias, no outro um diário, noutro resenhas de filmes e discos - este durou cerca de um ano. Através dele, cheguei a escrever para um portal indie, o Outernative, capitaneado pelos colegas capixabas Bruno Reis e André Graciotti. A minha geração, assim como a anterior, tinha uma relação intensa com o consumo de filmes e música, mas de um jeito diferente do que percebo hoje. Qualquer hora tento escrever melhor sobre a mudança de paradigma nos anos 2020, que é um assunto que me pega muito. E por isso o tema da newsletter da minha sorteada me deixa tão nostálgica e feliz. A
escreve e me transporta para outros tempos.Aproveito o ritmo da newsletter da presenteada, trago os <melhores do ano> de modo afetivo, ou seja: de acordo com minha humilde opinião. Quase não teremos lançamentos, visitaremos meu Spotify Wrapped e constataremos obviedades sobre minha personalidade. Espero através dessa viagem musical e audiovisual te incentivar a apreciar essas coisas tão bonitas que são as músicas e os filmes (ou séries). Em 2024 quis ficar quietinha, me expus pouco à novidades e cacei no baú de tesourinhos o que me traria conforto. Em geral, essas coisas estão no recorte de tempo/espaço de meados dos anos 1990 até por volta de 2009. Faço muitas playlists tanto no Spotify quanto no Youtube e adoro assistir shows. Fui uma adolescente muito influenciada e formada pela MTV e costumo dizer que se o Youtube já existisse em 1999, talvez eu não tivesse passado de ano na escola. Tudo o que eu queria era escutar música, o dia todo. Hoje não consigo ouvir o tanto de música que gostaria, pois tenho aulas presenciais pela manhã e a tarde atendo no consultório. Tentei em 2024 ouvir músicas nos intervalos e dei preferência a elas ao invés de podcasts, por exemplo. Para assistir, ao invés de mergulhar nas séries do momento, decidi assistir a um grande clássico. É nesse tom que vamos para a retrospectiva de 2024.
- Série: The Sopranos
A série de televisão mais revolucionária da história. Sei que sou exagerada e adoro adjetivos e advérbios, mas essa definição não é minha. A obra tem uma coleção de prêmios e é citada como referência para profissionais do ramo até hoje, quase duas décadas após sua season finale. Tony Soprano, um homem de quarenta e poucos anos de ascendência italiana, é interpretado pelo inesquecível e saudoso James Gandolfini. Tony é pai e chefe de família em Nova Jersey que resolve após uma crise de pânico, fazer terapia. Sua dupla atribuição é uma dupla função: além de marido de Carmela e pai de Meadow e A.J., também é chefe da família da máfia regional. A cultura ítalo-americana é uma das personagens da série e em muitos momentos lembra costumes, ideais e comportamentos da imigração que também recebemos no Brasil. O modo como a violência, a tradição e os conflitos emocionais são retratados na série é inédito para a época em que foi concebida. A estética da transição de século e milênio é muito nostálgica e cada elemento, da escolha de elenco, passando pelo figurino, gestual e cenários (as cenas externas foram gravadas em NJ) é essencial. Inovadora, transgressora e perigosamente apaixonante. Já está na lista de séries para rever, as personagens - horríveis e humanas - moram no meu coração. Disponível no streaming da Max.
- Documentário: Jane B. Por Agnès V.
Aos quase quarenta anos, Jane Birkin faz uma retrospectiva de sua carreira e vida através das lentes de ninguém menos que Agnès Varda. Numa mistura de entrevistas com ficção, Jane fala sobre seus relacionamentos, sobre sua carreira de cantora, atriz e modelo, sobre maternidade, sobre sua casa e também suas reflexões sobre a existência. Numa atmosfera de sonho, a conversa entre as mulheres é desenrolada com intimidade e criatividade, a beleza presente nessas duas figuras icônicas é enigmática e inspiradora. Assisti pela plataforma MUBI, mas verifiquei que não está mais disponível.
- Filme: Robô Selvagem
A exceção da lista. A animação da Dreamworks estreou em setembro no Brasil e conta a história da robô Roz, que naufraga num lugar desabitado após um acidente com seu navio transportador e <sobrevive>. Programada para servir aos humanos, a robô procura sua nova missão, adaptar-se ao ambiente e conseguir voltar para seus <donos>. No caminho, sofre outro acidente e a partir dele torna-se a mãe de um ganso. É o jeito mais simples de contar a premissa do filme sem entregar spoilers. Chorei, chorei muito. Sim, estou num ano delicado e facilmente emocionada, mas o refinamento desse filme é coisa de outro mundo. Recomendo lencinhos e um ombro amigo para te abraçar no final (que é lindíssimo).
- Show: The Smashing Pumpkins
Quem me conhece sabe o quanto eu lamento ter perdido os <shows de bandas da minha vida>. Nas duas últimas décadas quase todos os meus artistas preferidos estiveram no Brasil, sempre no eixo Rio-SP. Como eu ainda não morava em terras paulistanas, o acesso à esses eventos era complicado, envolvia não apenas o ingresso (sempre tão caros), mas também passagens, hospedagem, deslocamento e alimentação. Algumas perdas são irremediáveis como Silverchair e a reunião mítica que mora no meus mais dourados sonhos ou Mark Lanegan que dois deixou anos atrás. Para essas a gente engole o choro e segue o baile. Para outras, o remédio tem chegado aos poucos. As turnês de comemoração de anos de carreira ou de lançamento de discos icônicos tem sido cada vez mais comuns e agora moro na cidade grande. Sim, os ingressos continuam caríssimos, mas todo o resto dos custos é amenizado - afora a possibilidade de dividir no cartão de crédito. The world is a vampire é o nome da turnê que trouxe o SP ao Brasil em novembro. Amigos que moram no exterior já tinham ido ao show e seus vídeos no stories me causaram inveja. Pois bem, chegou minha vez. Um espetáculo metaleiro, sombrio e muito alegre embalou jovelhos como eu na noite de um domingo inesquecível. Lágrimas incontidas e voz rouca me acompanharam ao som dos acordes de Tonight Tonight e um filme se passou na minha cabeça. Perdi muitos show nessa vida, mas nesse aproveitei cada gota de suor.
- Top 10 músicas mais ouvidas no Spotify
Para músicas, não disfarço: sou muito anglófona. A sonoridade da língua me traz conforto, entra em contato com períodos importantes da formação do meu <eu> e não tenho conflitos em relação a isso. Certa feita, num relacionamento, fui criticada pela preferência. Não acredito que esse gosto me faça menos <brasileira> e que nem a preferência dela a faça <mais originalmente brazuca>. Experimento uma brisa (alô
!) muito curiosa: as músicas em inglês me transportam para cenas, imagino músicas como pedaços de filme, sabe? Herança da educação cultural de anos vendo MTV, claro. Apesar da vinheta do canal mandar <desligar a tv e ler um livro>, assistir aos clipes venceu muitas vezes e não me arrependo nem um tiquinho das horas de deleite musical e audiovisual. Parte das músicas mais ouvidas em 2024 vem desse passado e outra parte vem de descobertas no Youtube, minha MTV com algoritmo.
Changes, Antonio Willians
How can you swallow so much sleep, Bombay Bicicle Club
Symbol, Adrienne Lenker
Ain’t it fun, Paramore
Zero, Smashing Pumpkins
My own summer, Deftones
Babel, Massive Attack
The hollow, A perfect circle
Ava Adore, The Smashing Pumpkins
Be quiet and drive, Deftones
Essa é uma singela homenagem ao trabalho da
com suas resenhas afiadas e nostálgicas. Adorei escrever para ela e sobre esse tema. É o terceiro ano que fazemos essa troca de cartas, vejo uma tradição se desenhando, hein? Agora é aguardar para saber quem me tirou!obs: todas as imagens dessa postagem foram encontradas em pesquisa simples do google imagens e tem fontes não certas de autoria.
Drops:
Graças ao Internet Archive, encontrei um post da época do Outernative
Minhas músicas mais ouvidas de 2024
As mais mais 2024 em vídeo
AdolePaula, uma playlist de clipes
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um abraço e até a próxima edição,
paulamaria.
Curiosamente compartilho da sua brisa também kkk tem algo de cinematográfico na música anglófona, pelo menos na minha cabeça