Escrevo a edição de hoje no modo <economia de bateria>. Resta pouco ou quase nada de energia por aqui. Hoje já tive aulas na USP e peguei um trânsito de lascar no caminho de volta. Depois: escrevi, reescrevi, editei, diminuí, orcei, empaquei, pedi ajuda, escrevi, reescrevi - repeti isso algumas vezes e finalmente esgotei. Não sem antes ir para a última reunião do dia e em seguida me permitir, depois de mais de uma semana, continuar a última temporada de Os Sopranos. Meu problema com limites é antigo e tema de terapia recorrente, mas essa semana ficarei devendo a psicóloga e vou forçar mais um tiquim na noite de hoje para entregar essa news na sua caixa de entrada amanhã cedo.
Estou organizando um material extenso, burocrático e relativamente complexo para concorrer a um edital público. O prazo é curto e os detalhes são inúmeros. Toda hora descubro alguma pequena coisa que ficou para trás ou que fiz muito diferente de alguma colega que também é <tentante>. Digito essas palavras quase a cochilar e tenho medo de, até amanhã ao dar o enter final, que eu tenha perdido o amor à escrita. Eu duvido, mas que parece… Ah, parece.
No meio de todo o caos de hoje e das últimas semanas, intercalei momentos de pausa e mergulho em Guimarães Rosa. Nunca pensei que conseguiria me concentrar em uma literatura tão densa em meio ao caos. É incrível como sua prosa, que passeia por diversos gêneros textuais, chega exatamente ao meu coração. Por mais que na maior parte do tempo eu me sinta perdida, é diletando ao longo de suas páginas que sou surpreendida com a infinidade de bonitezas e sabedorias que ele nos traz. Resolvi anotar uma lista delas, que pesquei de Grande Sertão Veredas - meu calhamaço deste ano. Estou lendo para o curso de Literatura Brasileira II e também por isso propus uma leitura conjunta que será realizada em três encontros em setembro.
Com vocês, Guimarães Rosa:
Deixa: bobo com bobo - um dia, algum estala e aprende: espeta. (p.33)
A gente nunca deve declarar que aceita inteiro o alheio - essa que é a regra do rei! (p.39)
Mocidade. Mas mocidade é tarefa para mais tarde se desmentir. (p.39)
O corpo não translada, mas muito sabe, adivinha se não entende. Perto de muita água, tudo é feliz. (p.45)
Mas o ciúme é mais custoso de se sopitar do que o amor. Coração da gente - o escuro, escuros. (p. 52)
Moço, toda saudade é uma espécie de velhice. (p. 56)
Confiança - o senhor sabe - não se tira das coisas feitas ou perfeitas: ela rodeia é o quente da pessoa. (p. 72)
O amor? Pássaro que põe ovo de ferro. (p. 77)
Digo: o real não está na saída nem na chegada: ele se dispõe para a gente é no meio da travessia. (p. 80)
Despedir dá febre. (p. 81)
(...) no viver tudo cabe. (p. 85)
Viver é um descuido prosseguido. (p. 86)
Cavalo que ama o dono, até respira do mesmo jeito. (p. 89)
Qual caminho certo da gente? Nem para frente nem para trás: só para cima. (p. 110)
Passarinho cair de voar, mas bate suas asinhas no chão. (p.173)
Drops:
Ferozes melancolias, o livro novo da querida
será lançado em São Paulo neste domingo, 25 de agosto, das 11h às 14h. Livraria Martins Fontes Paulista. Um título roseano, viu? Parabéns, Ana!Estarei na Primavera das Letras, dia 01 de setembro, às 15h:
Edições que li e salvei na última semana:
Correspondência: uma íntima conversa entre eu e
Leonora Carrington, a última surrealista por
Falar com crianças sobre temas difíceis por
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Um abraço e até a próxima edição,
paulamaria.
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