Com toda a polêmica da morte da crônica, veja bem, me senti inspirada a finalmente sentar e rascunhar uma sobre minha experiência de voltar à estudar formalmente. O texto é curto, provavelmente inacabado, mas segue com carinho neste e-mail em comemoração aos mil inscritos na newsletter.
Escrever e ser lida é bom demais. Obrigada, obrigada & obrigada.
Como há quinze anos atrás, para chegar à faculdade passo por uma ponte. Aqui não tem cheiro de peixe e nem consigo secar os cabelos com ventania da janela. No ônibus da cidade grande, as janelas estão sempre fechadas, ora por fazer frio, ora pela ausência de mobilidade nas janelas ou ainda por ficarem cerradas sem motivo aparente, ainda que faça muito calor. Hermética no transporte público, assisto a cidade através dos vidros e ela é quase inóspita: me imagino então cineasta, com uma handcam onde a distância da cena aumenta e nem personagem sou mais. Parece um modo exageradamente romântico de ver o rio Pinheiros - tão triste e poluído, de suportar a cafonice dos prédios espelhados ao fundo e de não enlouquecer com barulho do trânsito. No curta metragem, tudo isso é história pra contar. Me afasto um pouco mais. Penso em 2006. Em minutos, entramos - eu, ônibus, os jovens, as mochilas, as ficções alheias - pelo Portão 1.
Academia de Polícia. Instituto Butantã. CEPE. Faculdade de Educação. CRUSP. Biblioteca Brasiliana. Três rotatórias depois, desço do coletivo. Quando me livro das janelas fechadas, árvores plantadas artificialmente me acolhem com sua sombra e brisa. Caminhando até o prédio de Letras, vejo quero-queros disputando a grama com passantes e a Ufes aparece num flash, quase como uma propaganda da Jequiti durante o programa Silvio Santos. Aqui no campus Butantã, aranhas também fazem suas teias e ninhos entre paredes e passagens. Descobri, contudo, que não seguem incólumes - desde o último semestre, foram retiradas de perto do bandejão das Químicas. Lamentei e me senti estranha, em luto por aracnídeos.
No subsolo do prédio, por onde geralmente chego para as aulas, piso no tapete onde lê-se FFLCH, em tecido plástico azul, grafado em branco. Ao redor do tapete, comumente folhas e terra seca, varridas pelos ventos intensos e pouco frescos que zunem pelo campus. O piso do prédio, branco encardido, lembra os corredores da Extension, setor que estagiei na Clinique de La Borde. Faz um pouco de frio, é mais úmido que nos outros andares. Também é escuro e guarda cadeiras quebradas em cantos subutilizados. La Borde foi o primeiro espaço que construí pertencimento após terminar a graduação na Ufes. Subo as escadas. Gosto mais de quando tenho aulas no primeiro andar, mas é no segundo, na sala 270, onde consigo olhar pela janela e ver árvores dançantes e céu sem prédios. Saudades das castanheiras majestosas entre os IC. Talvez as árvores nunca morram dentro de nós.
Drops:
O site do careca tá com promoção de livros importados, compre dois pague um. Meu link de afiliada é esse.
O
voltou com a newsletter e nos dá de presente um conto novo!O texto mais bonito que li na última semana é da
e se chama A beleza das coisas que passam (!!!)Hoje finalizo um curso no Centro de Pesquisa e Formação do SESC, Mulheres na Edição. Quatro encontros incríveis que ainda estou digerindo. Na mesa Os desafios da tradução, conheci o trabalho Gênero e divisão do trabalho na tradução: o caso da poesia traduzida no Brasil
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um abraço e até a próxima edição,
paulamaria.
Delicia ler seus escritos... Viajei no tempo lembrando meus tempos de graduação na Ufmg
Lindo, Paula! ❣️