Olá, leitores! 'Cês tão de boas? Por aqui, ensaiando alguns textos e falhando em quase todos. Monte de rascunho ficando pelo meio do caminho, mas fé no processo que uma hora eles saem - essa hora não é agora. Então o texto de hoje será uma pequena crônica que escrevi pós viagem recente, beleza? Estive numa cidade que morei há 16+1 anos atrás e quero contar essa experiência de retorno na carta de hoje.
Visitar Maceió me trouxe uma nostalgia inesperada. Como habitante oficial fiquei por apenas quatro meses, o tempo suficiente para decidir sem dúvidas que não queria fazer vestibular para Ufal nem outra faculdade no estado. Com pouca maturidade mas muita vontade, pedi aos meus pais para retornar ao Espírito Santo e seguir pro meu sonho da Ufes. Sonho realizado. Quase duas décadas depois, retorno a Maceió. E me assusto.
Grande parte da cidade por onde andei nessa visita — por perto de onde morei e adjacências — se parece com outro lugar que morei e que também fugi, menos rapidamente (infelizmente). Andar por Maceió me pareceu andar por Jardim Camburi, onde morei por 3 anos, em Vitória/ES. Sensação assustadora e que me fez pensar no que acontece quando se vai embora.
Veja bem, Maceió é um lugar com paraísos naturais assim como Vitória. Ambas cidades permitem manter uma qualidade de vida bem alta, são pacatas (no recorte pessoal), e nos dois lugares fiz boas amizades e fui relativamente feliz. No entanto, um gosto amargo me aparecia com frequência, algo que me espremia, me fazia sentir sem lugar e invisível. Em Maceió, foram só quatro meses sofrendo intensamente sem entender muito o porquê. Em JC, o tempo se alarga por anos e alguns motivos eu identificava, mas me esforçava para me adaptar. Depois desse retorno às Alagoas, acho que me entendi melhor.
A cidade me lembrava uma vida que não era o meu sonho, ainda que pouco eu soubesse do que queria viver. O gosto amargo insistente era o lembrete para construir uma rota de fuga. E pasme: no meu pequeno grupo de 4 amigas alagoanas, as 4 sairam de Maceió e nenhuma voltou a morar por lá. Será que o amargo era só meu? Será que o aperto e a invisibilidade também não perseguia essas outras adolescentes? Afinal de contas, onde moram nossos sonhos?
Quando fui embora de JC senti um gosto parecido com o que experimentei pela primeira vez em novembro de 2003. Parecido e inédito. Já adulta, fugi para viver outro sonho, sem forma ou direção, mas com muita vontade de viver e certeza na decisão. Foi isso que me catapultou de Vitória com o que coube no carro, e que, anos antes, com o que soube na mala de Maceió. Eu fui. Eu parti.
[se nada mais te prende aqui, agora já não te falta nada]
Vivi muitos sonhos nas minhas partidas. Já escrevi outras vezes da minha dificuldades com finalizações… Revisitando esses acontecimentos, me (re)vejo e faço uma observação no caderno de cartas: quando eu quero recomeçar, os fins são inevitáveis e são meus melhores amigos.
[Não vou ser mais triste / Vou mudar daqui pra frente / E a minha escrita vai ser muito diferente]
É isso que acontece quando se vai embora. Confesso que tentei pensar no que acontece quando NÃO se vai, mas isso não me trouxe pistas sobre mim. Em Maceió esses dias me perguntei como seria se eu tivesse ficado, e em todos os caminhos que tentei construir mentalmente, eu não teria ficado porque mesmo se eu pudesse alterar pequenas escolhas no passado, eu sempre teria partido. Depois dos quinze. Homem aranha. Russian doll. Lost. O que aconteceu, aconteceu. Foi mal, Marty Mcfly, gosto mais dessa versão do passado no futuro:
Vi a Paula Maria aos 17 no aeroporto capenga de Maceió indo para o aeroporto capenga de Vitória. Vi a Paula Maria aos 32 com o carro cheio de caixas e som no talo voltando a Vila Velha. Sempre com o coração na mão e os pés no chão. Ir embora não é desistir. É se dar a chance de tentar. 🍃
Por falar em Russian Doll, saiu a segunda temporada e ela é maravilhosa. Pra quem é de Twitter, indico esse perfil aqui.
Lost, minha séria favorita de todos os tempos, acabou há 12 anos atrás. Fique com um clipe bonito sobre o final - que foi bom sim!
Eu e meu comparsa Lisandro Gaertner juntamos nossas manias de inventar moda e estamos com um projeto novo. Chama-se Toranja, uma newsletter sobre práticas criativas no cotidiano. Assine aqui!
Meu livro de poesias continua em pré-venda e já foi quase metade da tiragem! Compre, divulgue, ajude essa escritora a continuar sua jornada. <3
Dois textos gostosos que li nessa manhã: da lu flows e da maki de mingo.
O inescrupuloso presidente vetou nessa semana a inscrição de Nise da Silveira como heroína da pátria em livro. A gente sabe que ele é ignorante (dentre outras coisas), mas o importante disso tudo é que você saiba quem foi Nise.
No bojo do assunto violência e psiquiatria no Brasil, deixo meu nojo e desespero pelas notícias da semana no nosso país. Genivaldo Santos foi assassinado pelo governo brasileiro. Peço que se informe sobre o caso e não divulgue o vídeo ou fotos da tortura e do assassinato dele, em respeito à sua memória. Hoje, 27/05, haverá ato no Distrito Federal na sede da PRF. O manicômio ainda está entre nós e continua perseguindo as mesmas pessoas, desde sua invenção.
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Um abraço e até a próxima edição,
paulamaria.