Estandarte da incerteza
🎭Carnaval, carnaval, carnaval / Fico tão triste quando chega o carnaval - Luís Melodia
É carnaval! Ou melhor, é carnewsval: um bloco carnavalesco digital, textual, disponível nas melhores casas do ramo. Nessa edição, vamos pra avenida um pouco mais cedo, porque na sexta feira eu duvido que alguém vá me ler.
No ensaio do nosso bloquinho, você pode participar do conforto da sua casa, tomando a bebida que preferir e com a roupa que quiser e se estiver lendo de fantasia, por favor, dá um jeito de me mandar essa foto! Ô abre alas pro pequeno conto urbanóide que desponta na avenida!
Experimente ler ouvindo essa música, mas se não quiser tudo bem.
Estela tem 23 anos e termina a faculdade de jornalismo. Talvez arrependida com a escolha da formação, mas agora é tarde, falta pouco, e desistir é um peso que não poderia suportar. Gosta de escrever e sabe que quem escreve quer também ser lida. Jornalistas são lidas, então escreverei e serei lida, encerrando a dúvida por ora. Por mais que em 2023 jornalista não precise de diploma e nem ser de carne e osso, respira fundo e lembra: pelo menos é carnaval e não estarei de plantão na redação. Enfim, os refrescos.
Faz anos que não frequenta um bloquinho, afinal de contas, nos últimos anos foram infectados com outro tipo de purpurina, mais insistente e impertinente que a conhecida de papelaria. Estela respeitou as regras da OMS como uma religião e por isso não era muito bem vista pelas colegas de trabalho, que, apesar de propagarem em rede social dicas de cuidados e prevenção da COVID, nos bastidores se acabavam em festinhas clandestinas desde 2020. Enfim, as hipocrisias.
É 2023 e agora se sente mais confiante e menos religiosa. Busca no quartinho da bagunça a caixa do barracão de carnavais passados. O cheiro é agradável, conserva um pouco do amaciante, mas os maiôs perderam o elástico, esticam fazendo um crec. As tiaras precisam de uma repaginada, mas servem. Outros apetrechos avulsos parecem não combinar entre si, no entanto, a descoordenação traz um tom poético e cômico nessa preparação: o que ainda precisa fazer sentido em 2023? Mais vale uns reais economizados na carteira, cerveja tá cara e é preciso garantir o Uber da volta.
Segue carregando a caixa pro quarto, sem muita animação e com espírito de planejamento, começa a montar looks em cima da cama. Passa alguns minutos rearranjando cores e brilhos, tentando não repetir fantasias passadas. Avalia, tentando se imaginar na folia, mas trava. É, faz muito tempo, pensa. Talvez não saiba mais estar no carnaval, não saiba mais se fantasiar. Como saber fingir, se permitir delirar, perder o controle, viver tudo o que há pra viver depois de tanta crueza e tristeza cotidiana? Remexe nas roupas, alguns brilhos se espalham pelo lençol, como um lembrete: o pesadelo, em partes, acabou.
Então tem uma ideia. Recolhe todas as fantasias combinadas e as enfia de volta na caixa do barracão. Abre o armário e escolhe uma roupa que usa para o trabalho. Estende sobre a cama, por cima do lençol sujo de paetês soltos e purpurina velha das fantasias descartadas. Respira, sorri: tá decidido. Fotografa o look e envia no grupo das amigas, que acumulava mais de 50 mensagens não lidas, entre áudios e fotos carnavalescas. Rapidamente recebe diversas interrogações em resposta à sua foto. Estela sorri novamente, agora olhando pela janela do apartamento na Santa Cecília. Envia outra foto, dessa vez do céu de São Paulo. Novamente as amigas parecem confusas com sua mensagem e perguntam: tá tudo bem, miga? Tá sim, gente. Encontro vocês às 16h no Jhonys. Procurem pela Moça do Tempo. Enfim, as fantasias da realidade.
Essa edição especial da te escrevo cartas faz parte do desafio #carnewsval proposto no grupo Newsletter BR.
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um abraço brilhante,
paulamaria.
Já eu, prefiro o bloco Unidos da escrivaninha. Vou meter a cara no novo romance.
Beijo, menina
Pensando em ir num bloquinho no terça na versão pós -acidente quase morte antes da pandemia. A pergunta é se lembro Fazer carnaval agora com novas formas de ser?