Mais um alerta ao abrir o gmail: “Seu armazenamento está quase cheio. Em breve deixará de receber novas mensagens”. Acesso a página com todas as produções que tenho no google e tento apagar arquivos para abrir espaço: deleto todas as coisas relacionadas ao período da graduação, logo após decido também apagar os arquivos do mestrado; sigo investigando o que mais pode sair dali e uso palavras chave como o nome do ex ou a palavra casamento - tudo o que a busca me traz segue direto pra lixeira. Limpo a lixeira. Retomo a página inicial, ganhei quase nada de espaço. Tudo em vão. Horas de visitas ao passado para nada. Penso comigo “é, não vai ter jeito”, e depois de anos relutando, digito mais uma vez o número do cartão de crédito e assino mais um produto virtual para armazenar meus bits na rede mundial de computadores. Comprei mais um lote na famigerada nuvem.
Visitar meus arquivos da conta do google abriu inúmeras linhas do tempo emocionais. Esbarrei, por exemplo, numa foto de uma blusa libélula absolutamente linda que tive anos atrás. Acredito que eu tenha vendido ou doado, não me lembrei, fiquei chateada por isso e sem entender o porquê de ter me desfeito da peça. Fiquei obcecada em reaver a blusa, uso novamente palavras-chave em brechós online, sonhando em poder resolver meu arrependimento do desapego. Novamente, em vão. Busquei no espaço virtual alívio. Me restou o sorriso desmanchado, o cansaço mental das memórias revisitadas e o esgarçamento do tempo que fui obrigada a enfrentar. Decido então abrir mão mais uma vez da bonita blusa, que segue agora apenas na pasta do google fotos. Que não encontrei novamente para mostrar aqui. Será que a perdi por uma terceira vez?
As coisas que apagamos e perdemos no tempo, por escolha ou pela falta dela, vez em quando me perseguem como fantasmas. Não tenho dificuldades em recomeçar, pelo contrário, sou entusiasta de fases porvir. É que quando não consigo ritualizar despedidas, parece que sou displicente no desfazimento daquela relação e o resto daquele encontro segue comigo, como uma nota de cinco reais esquecida num bolso de calça jeans, lavada por muitas vezes, até quase desaparecer. Quase.
Os farelos de comida embaixo do fogão que só arrastamos duas vezes no ano pra varrer. Aquela roupa no fim do cesto de roupa suja, a ser lavada à mão. A calça para fazer bainha. O e-mail de trabalho que não tem resposta certa. A mensagem de whatsapp daquele amigo que você não sabe se ama mais. O encarte do CD que não tem mais tocador. A troca de e-mails com uma dêérre importantíssima em 2008. A coleção de ingressos de cinema do Shopping Vitória. A palheta de guitarra do primeiro namorado feita com cartão de crédito velho. O rascunho. O quase. O sussurro. Tudo ali e nada ali.
Um abraço e nos vemos na próxima edição,
paulamaria.
Adorei o texto, me identifiquei tanto. Também ando nessa de limpar o espaço virtual pra caber mais memórias e pedaços de mim. Também me arrependo tardiamente anos depois de ter me desapegado de alguma coisa.
tão difícil se despedir, mas tão bom às vezes. adorei, tava precisando desse momentinho reflexivo ❤️