Na semana do dia dos namorados inventado pelo pai do João Dória, o ex-presidente mais amado/odiado do Brasil falou, em seu twitter, pros seus seguidores escreverem uma carta de amor escrita a mão e esconder embaixo do travesseiro da pessoa amada. A internet foi ao delírio com comentários como “o último romântico”, "ô presidente lança o Meu Namorado Minha Vida pra gente que não tem namorado próprio" até mesmo declarações para presidenciável. Além de me divertir horrores sendo as replys, fiquei muito animada por ver alguém com grande alcance digital falar de cartinhas, algo tido como ultrapassado e fora de moda, em tempos de interações românticas por memes e emojis. A carta voltou à moda, ainda que por apenas uma tarde na rede do passarinho azul.
A convocação da persona pop de Lula me fez querer continuar a escrever esse texto que estava rascunhado no Scrivener. Penso em Fernando Pessoa, que disse com deboche habitual que todas as cartas de amor são ridículas, ao mesmo tempo sendo o lusitano que escrevia diversos poemas de amor, que, convenhamos, também são ridículos & lindos. Pessoalmente, você já sabem, sou fã de cartas e poesias. Já perdi as contas de quantas cartinhas ridículas escrevi e não tenho vergonha em assumir que entreguei uns 93% delas, sem arrependimentos. Não é novidade que sou chegada no modo ‘quero ter histórias pra contar’ e me apaixonar e contar pra todo mundo faz parte desse rol de histórias. Adolescente, contava pra escola inteira quem eram minhas paixonites, sejam as de curta ou longa duração. Verão passado, antes de me mudar pra São Paulo, revisitei caixas de cartas da dessa época e li as amigas sempre me perguntando se eu ainda era apaixonada pelo Visconde de Sabugosa. É... dessa vez eu vou me preservar (!) e tentar manter o anonimato do moço. Entendedores entenderam, diria a internet em 2008.
(você sabia que a Madalena era da minha Vila Velha, no Espírito Santo? Viva Martinho!)
Fato é que cartas estão sempre me rondando, sejam para a pessoa crush do momento ou para as dúzias de amigos que eu cultivei durante a vida. Através delas eu ‘edito’ a mim mesma, compreendo melhor meus pensamentos e sentimentos, limpo a memória do meu hd mental e reafirmo minha admiração pelas pessoas. Fato também é que eu tenho uma total paixão pelas pessoas, como Chet Baker, I fall in love too easily. E deve ser por isso que eu adoro ser ridícula e escrever cartas de amor. Sou team emocionadas!
Mas calma, isso não significa que sou apenas um docinho de coco. Por vezes, eu azedo, como toda coisa viva (ufa!). É duro lembrar e reconhecer o erro, mas já fui acusada de ser uma péssima amiga/irmã/filha/namorada/similares quando o doce estragou sem aviso prévio. Os desfechos não são eternos e ninguém é bom o tempo todo, logo, isso me deu passe livre para continuar meu caminho largando laços que não faziam mais sentido ou que machucavam e apertavam demais. E então, nesses momentos, as cartas de amor se transformavam em cartas de despedidas, pedidos de desculpas, acusações e perguntas que nunca tiveram resposta.
Acredito que toda carta tem um tom de confissão, como se um segredo pudesse ser escondido nas entrelinhas, no meio de outras informações banais como "hoje o dia está insuportavelmente nublado e frio" ou "preciso ir a feira comprar cebolinha, você gosta de ir à feira?". O gostoso e o desesperador é que esses segredos seguem tão concretos ali no papel e caneta, sem controle do seu destino final. O que se põe numa carta pode ou não chegar ao destino, como acontece por vezes nos envios do teescrevocartas, por exemplo. Também podem ser lidos no momento do recebimento ou, como certa vez, quatro meses depois da entrega do carteiro, seguido por uma mensagem no zap "li sua carta agora, meu pai estava doente e faleceu na última semana". Uma carta, de amor ou não, está para o mundo, solta, viva.
Também pratico escrever cartas para mim mesma, como estratégia para 'retirar' os longuíssimos monólogos internos da cachola, tentando ajudar na formatação do meu hd, sabe? Essas cartas parecem um diário, mas como bem anuncia a primeira página de um dos meus cadernos:
Termino essa news fazendo o mesmo convite que iniciou o texto: escreva uma carta de amor. Seja ridícula ou não. Entregue ou não. Mas não deixe de escrever. Tive uma ideia: Correio do Amor! Quem quiser participar deve me encaminhar sua carta por e-mail e dentre elas vou escolher uma para enviar um exemplar de "Cartas de uma pandemia", coletânea que participo através da Editora Claraboia. O aniversário esse mês é meu e quem ganha o presente são vocês.
Em 2019 participei de um concurso cultural no finado perfil 'minha carta de amor' e fui publicada aqui
Estou apaixonada por esses bonecos do casal Igor e Anastasia
Tayná Saez tá com uma aula sobre cartas de amor nos dias 18 e 25 desse mês
Paulo Resende, meu conterrâneo e semi xará, vai ter curso de bordado na Domestika (chic!) com pré-venda esse mês
Mais alguém aí começou a ver a série Irma Vap na HBO+? Estou obcecada com Alicia Vikander
Das bandas que mais escrevi em cartas, talvez Paralamas esteja no top 3. Essa música tem tudo a ver com essa news!
Quem quiser trocar cartas - dessas que chegam pelo carteiro! - me segue aqui e bora trocar!
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Um abraço e até a próxima edição,
paulamaria.