Desde criança sonho com a minha casa. Lembro de brincar no quintal dos meus avós – que era meio compartilhado com a casa onde morava – e catar umas parafernálias para construir os meus próprios objetos. Certa vez, encontrei um vidro de enxaguante bucal da Bozano e retirei o rótulo de papel, com bucha e sabão no tanque baixíssimo dos meus avós. O frasco parecia algo chique e ao mesmo tempo me remetia aos homens de terno das revistas de moda, com ombreiras largas e pernas compridas e finas. A tampa de plástico branca estava um pouco agarrada, mas consegui lavar bem o interior e deixá-lo transparente. Eu devia estar na quinta ou sexta série da escola e tinha materiais de arte à disposição. Nesse objeto, provavelmente um dos primeiros que elegi como meu, pintei umas coisas abstratas e psicodélicas, com tintas azul, branca, vermelha e preta. Acho que foi cola colorida, na verdade. Consigo lembrar a textura da cola lambuzando as mãos pra descascar com calma depois. A sensação de perder uma pele feito cobra – e a realização de ter feito algo meu.
Não foi à toa que aos onze anos de idade eu tenha inventado de fazer um objeto decorativo para minha casa do futuro. Também não acho que foi sem razão que esse objeto tenha sido feito com material reciclado. Cresci à base do documentário Ilha das Flores, aulas do Telecurso 2000 e campanhas da fraternidade. Minha família guarda uma quantidade considerável de objetos do passado geracional e meu pai tem fascínio por artefatos históricos no geral. Há tempos pretendo escrever sobre o direito ao objeto – que pra mim tem diretamente a ver com o direito à história. Esse texto, ou essa série de textos ainda está burilando aqui dentro… Os últimos acontecimentos, pessoais e sociais, me impulsionaram a escrever essa introdução para trazer algumas informações sobre a tragédia ambiental brasileira, que hoje atinge nossos colegas no Rio Grande do Sul e no Maranhão – pois é, por lá as coisas também estão calamitosas. A seguir, reuni newsletters de quem já escreveu sobre o assunto, indico as iniciativas que tenho acompanhado de perto e divulgo uma ação conjunta que participarei neste sábado.
1. Primeiramente: AULÃO DE ESCRITA CRIATIVA
reuniu em tempo recorde uma galera muito massa para esse mutirão beneficente. Será neste sábado, 11/05, a partir das 14h – mas você poderá ver gravado se quiser. Todo valor será revertido para instituições que estão na linha de frente de suporte (exceto a taxa da plataforma Sympla). Estarei lá com um time pesadíssimo como , , , , … Já batemos mais de 18 mil reais em arrecadações e sei que podemos muito mais. Informações aqui: 2. Aline, bibliotecária, corredora e amante da literatura, fez da cozinha do condomínio onde mora um QG de solidariedade. De lá, saem marmitas para desalojados, lanches para voluntários, kits para crianças abrigadas… Foi para ela minha primeira doação nessa emergência. Todos os dias somos atualizados das ações e também da situação de onde mora. Doe e acompanhe por aqui:
3. A querida
está em Berlim e o coração no Brasil, de olho em como ajudar e colaborando para espalhar a boa palavra. Neste post, traz informações de doações seguras, inclusive de ações que serão feitas daqui um tempo – todo desastre demora a sarar:4.
, escritora e pesquisadora de ecologia, literatura e mudanças climáticas há mais de uma década, escreveu uma dolorida e bonita edição, da qual destaco este trecho:Quando se perde a própria casa, o lugar de conforto; ao perder uma vizinhança, um lugar de referência; ao perder uma cidade, o lugar de memória; é preciso se reconstituir como pessoa. Nem vou chegar nas perdas de pessoas, cachorros, gatos, peixes, grilos, cigarras, formiguinhas. Um trabalho de luto e de luta demorado e doloroso. Imenso e intenso.
5. A artista visual Tali Grass perdeu todas as coisas na casa em que mora com a mãe. Sei que muitas pessoas estão em situação parecida, mas eu já acompanhava o trabalho da Tali e escolhi dar uma força para a reconstrução da sua casa e da sua vida.
6. A Livraria Taverna vai precisar repor todos os móveis da loja, afogados em lama já há uma semana. Como escritora, não posso deixar de trazer também eles por aqui…
7. Neste fio da deputada Erika Hilton temos o destaque para a situação no Maranhão. Assim que tiver mais links confiáveis, atualizarei a lista ao final do post. Acompanhe o fio do Twitter aqui:
https://twitter.com/ErikakHilton/status/1788702746180227314
8. Para doações através do sistema Correios do Brasil, a informação mais atualizada que tenho:
Olá! Nesta quarta-feira (8), a arrecadação foi ampliada para toda a rede de atendimento da estatal nas regiões Nordeste, Sudeste (inclusive Espírito Santo) e Sul (no RS, em parte das cidades) e no Distrito Federal. Estamos recebendo e transportando, gratuitamente, os donativos. Saiba mais em: https://saladeimprensa.correios.com.br/arquivos/9523
Outros links para acompanhar no Instagram, com informações sobre doações:
Cozinha solidária do MTST: https://www.instagram.com/cozinhasolidariars/
Retomada Gahre, comunidade indíginena: https://www.instagram.com/retomadagahre/
Grupo de resposta a animais em desastres: https://www.instagram.com/grad_brasil/
Abrigo para mulheres e crianças em situação de violência: https://www.instagram.com/institutosurvivor/
Como ajudar pessoas com deficiência nas enchentes do RS:
Como ajudar pessoas gordas:
Agradeço desde já os compartilhamentos dessa edição e quem já topou apoiar nosso aulão. Nossa rede é incrível e forte.
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Um abraço e até a próxima edição,
paulamaria.
ótimo copilado! obrigada, querida!