Recado especial: estarei na 2ª FELITA - Feira Literária de Itaquera que acontece dia 10 de agosto a partir das 09h no Centro Comunitário CIFA (R. Flores do Piauí, 170, Itaquera). Estarei no Caixote do Autor às 13h30 na companhia da amiga Helena Simões Miranda e de Israel Neto. Vem me ver e trocar ideia? Mais informações aqui.
Qual é o caminho certo da gente? Nem pra frente nem pra trás: só pra cima. Ou parar curto quieto. Feito os bichos fazem. Os bichos estão só é muito esperando? Mas, quem é que sabe como? Viver… O senhor já sabe: viver é etcétera… (João Guimarães Rosa)
Mesmo antes de entender o conceito, eu já era uma pessoa com muitos projetos. O interesse em assuntos diversos, a solidão na infância sendo irmã mais velha, a introspecção, não sei… Penso esses que podem ser fatores que me levaram a ocupar o tempo <tentando fazer coisas>. Fato é que essas dezenas de experimentações foram apontando direções no meu caminho profissional, na lógica contrária do senso comum: os projetos não são o objetivo, eles me guiam para novos alvos dos quais eu não consigo prever. O grande combustível para o motor dos projetos é a <vontade de realizar coisas> e ela antecipa o desejo de sucesso ou do dinheiro. A sensação de estar fazendo o que matutei por tanto tempo é autossuficiente: é muito gostoso arrumar sarna pra me coçar.
Sei que essa sensação não é comum, que muita gente tem o medo como o combustível inicial. Eu entendo, de coração. Contudo eu mentiria se afirmasse que me jogo sem hesitações. Tenho um acordo pessoal: se não sei fazer, aprenderei fazendo. Este acordo é seguido de outro: se falhar, posso desistir ou continuar tentando, qualquer uma das opções é igualmente válida. Quem não lida (relativamente) bem com as constantes negativas da vida tem poucas chances de sustentar uma vida criativa. Fracassar é intrínseco à coragem, é parte de sua matéria, é princípio fundador. Nestes acordos pessoais, abro espaço para ser cem por cento sincera comigo, o que me ajuda a saber a hora de largar o osso ou de roer os restos de ontem. Em paz.
Faz uns dias que me lembrei de uma bonita empreitada que tive exatamente um ano antes de completar meus 30. Este projeto chamava <das alegrias> e era uma espécie de diário, com vibes de diário da gratidão, mas menos religioso e mais carpe diem. Busquei relatar <uma pequena alegria por dia> durante um ano até chegar no aniversário dos 30 anos. De antemão eu devia saber que era um projeto muito longo, que as intempéries da vida provavelmente iriam me atropelar e, além disso, eu já estava organizando outro projeto gigante: um casamento bem tradicional. Dos 365 dias, fiz apenas 27 postagens – um número curioso pois é o dia do meu aniversário. Releio a página, ainda online: sinto o gosto de minha escrita – verde, animada, fresca. Em 2015, eu era alguém muito diferente dessa que lhes escreve. Ao mesmo tempo, naquelas linhas e fotos há um tanto que aqui permaneceu. Me emociono.
Outros projetos demoraram quase a vida inteira para receberem essa alcunha. Escrevo cartas desde a infância e também experimentei variações como cartão postal, telegrama, e-mail e até fax (!!). Nunca parei de me corresponder, algumas pessoas já são amizades de carta por duas décadas. Até mesmo para desconhecidos topei escrever, através do site PostCrossing, onde você se cadastra e troca cartões postais literalmente com o mundo todo. Também namorei por correspondência alguém que conheci numa sala virtual de bate-papo e mais recentemente, em 2017, levei o hábito para o patamar de projeto pessoal e criei o <te escrevo cartas>. Essa newsletter é um dos galhos desse projeto, que segue trocando cartas físicas pelos correios. É uma parte menor do projeto atualmente, qualquer proposta analógica é muito mais dura de se consolidar e não é raro pensar em desistir. Eis que o zelador me envia uma foto pelo Whatsapp: duas cartinhas me aguardam na portaria. Tomo fôlego mais uma vez…
Isso me faz anotar: ideias são importantes, ideias que viram projetos também – mas sozinha não os levaria muito longe, como nos 27 dias de 365. O ânimo passa por provações e todo mundo precisa de um respiro. Geralmente começo projetos sozinha: tenho muita, muita pressa em começar. Porém é notório que na estrada de empreitadas o reconhecimento e a colaboração de outras pessoas é essencial, diria que vital. Em todo projeto, ou ensaio de projeto, que seja, tive o acolhimento de, no mínimo, uma grande entusiasta. Alguém que diz: vai lá, faz <sim!>. Essencial, vital, pedra fundadora: acolhimento é a regulagem dos meus ansiosos motores mentais. Ele me diz: veja bem, faz <sentido> – e tudo bem também quando parar de fazer. Anoto tudo num post-it colorido e colo na parede do ateliê mental, como um vívido lembrete para que eu continue – apesar apesar apesar.
Escrever um livro, produzir zines, manter uma newsletter, cursar uma nova faculdade, organizar um clube do livro, praticar corrida amadora são alguns dos meus atuais projetos. Em todos eles, ando muito bem acompanhada. Todo projeto é uma dobra de futuro. Esse texto é um convite para você começar o seu.
Drops:
Para começar uma newsletter
Para ler um clássico brasileiro, Grande Sertão Veredas em grupo
Para escrever sem medo com Jana Viscardi
Para escrever o primeiro livro com Jeovanna Vieira
Textos de newsletter:
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Um abraço e até a próxima edição,
paulamaria.
mulher do céu, fui pega desprevenida com esse texto. Comecei a leitura na fila de espera do correios, esperando pra postar meu primeiro cartão postal do Postcrossing hahahhha.
Estou que nem você, me enfiando em muitos projetos ao mesmo tempo rsrs.
o mais difícil de um projeto é sempre começar, vencer a inércia e o medo, ter coragem de arrumar mais uma sarna para se coçar e ver no que vai dar.