Já falei sobre minha dificuldade em finalizações aqui. Entendo que não é uma dificuldade inédita ou rara, mas escrever em primeira pessoa generaliza menos as nuances que descrevo e pode ser uma janelinha para identificação em quem me lê. Términos são difíceis para todo mundo, em certa medida, em certo grau. Afinal de contas, é impossível sair ileso de qualquer acontecimento. Nunca mais seremos os mesmos. (editando esse texto, a playlist 'mais tocadas de 2021' me manda, claro, uma música de término e nostalgia...).
A finalização da vez é uma mudança de casa. Mudança que não é a primeira, logo, não é inédita. Já me mudei algumas vezes, umas oito vezes, salvo engano. Sendo assim, tive oito lugares que chamei de lar, por períodos longos - como a casa que cresci e saí aos 16 anos - ou mais curtos, como o quarto dividido com 3 estagiários em LaBorde. Oito casas em 35 anos de vida parece um bom número. Conheço pessoas que nasceram, cresceram e habitam o mesmo espaço físico. Conheço outras que mudaram tanto de lugar que se veem sempre em movimento, com dificuldades de sossegar. Admiro a capacidade, mesmo que seja por falta de opção, em encaixotar tudo e dizer: ‘adeus’. Porque aqui tá sendo uma onda. Daquelas grandes. Em dia de ressaca. Na Praia da Costa.
Preciso lembrar de apesar de ter morado em oito casas, eu sempre morei perto do mar. E se a onda tá grande, posso me acalmar porque o mar não é um estranho, ainda que imenso. Sei nadar. Sei flutuar. Sei sentar na areia e aguardar o momento certo para mergulhar de novo. Me acalmo. Planejo como será encaixotar os objetos que fazem companhia no dia a dia. Dos que segue para doação, pois perderam a função para mim, mas não a sua função. Vender outros para ter um alívio financeiro dos dias sem trabalho no final de ano. Do que preciso jogar fora, aquelas mil pequenezas que se acumulam no ‘vai que um dia preciso’. Re-olhar todo o troço acumulado. Sorrir. Ter orgulho. Ser surpreendida por uma memória gostosa. Chorar. Rasgar ou quebrar. Fechar a caixa, escrever o conteúdo na tampa. Próxima.
Escrevi ouvindo uma live da Aline Valek na twitch (eu sou xovem) e me senti provocada para além da melancolia das caixas, objetos e móveis... Um grilo falante me sussurra no pé do ouvido: do que eu tenho que me despedir para realizar uma mudança? Percebo que oito mudanças me ensinaram bastante mas também me deixaram sem preparo para a próxima. Porque o novo não mora no planejável, o novo vai, literalmente, me tirar do lugar. É o lugar do futuro, da possibilidade, do imprevisível. Sei que vai chegar o dia de chamar o novo lugar de lar, que vou reler essa news sentadinha num sofá confortável, com uma xícara de café quentinho e meias velhas. Mas antes desse dia chegar - e eu volto pra contar, prometo! - eu vou ali viver mais um pouco os fins necessários para meu recomeço.
p.s. tô montando uma playlist de músicas para dizer adeus. Manda sua sugestão pra mim?
Um abraço e até a próxima,
paulamaria