Fazer uma coletânea de músicas parece corriqueiro num mundo cheio de serviços de streaming, mas #sóquemviveusabe como era complicado fazer isso no mundo pré-digital ou mesmo nos primórdios da internet. Chame de coletânea, mixtape, playlist ou similar, foram muitas as fases desde os anos 90, da gravação de fitinhas k7, correndo pra dar o play/rec - torcendo pra rádio não mandar uma propaganda no meio da música - até os dias atuais com a facilidade que as plataformas online nos permitem. De qualquer forma, continuo apaixonada por essa forma expressão, seja construindo listas com meus humores ou como demonstração de afeto.
Alguns filmes queridinhos dos alternativos - ainda existe isso? - falam de maneira aberta sobre a doce arte de reunir músicas em listas. O clássico Alta fidelidade, do ano 2000 com John Cusack e Lisa Bonet, mostra como era esse mundo pré-internet e como era viver dor de amores naquela época. Em 2020, ganhou sua versão em forma de seriado, estrelando Zoe Kravitz (filha de Lisa com Lenny Kravitz!) e melhorou 200% essa trama, pena que cancelada apenas com uma temporada. Outro filme da década passada é o fofinho Nick and Norah Infinite Playlist, com Kat Dennings e Michael Cera. Entre filmes mais atuais, em 2017 sai Song to Song, que não é exatamente sobre playlists, mais abstrato e maluco que todos os outros citados (a direção é do Terrence Malick), mas garanto que pela participação da Patty Smith vale a chance. E Natalie Portman sorrindo. Também tem Ryan Gosling:
Quando passei por um término pesadão de namoro na juventude, montei algumas playlists temáticas e enviei por email a amigas que passavam por situação semelhante de dor de cotovelo. Na época, o streaming ainda era incipiente, o youtube só funcionava no navegador e nem todo mundo tinha smartphone, então usava o bom e velho 4shared para subir pastinhas que as amigas poderiam baixar. A primeira coletânea chamei de “single ladies recovering”, se não engano tinham músicas sobre autoamor e girl power. Tempos depois, saiu a número 2, “single ladies hate part” - acho que eu estava amargurada (acho). Tentei recuperar o link para espiar as listas e tentar recriá-las no Spotify, porém não funcionou. É isso, com a internet, as coisas se perdem no tempo, ainda que o print seja eterno.
Montar uma playlist, seja de maneira solo ou colaborativa, é dividir seu coração de maneira honesta e íntima com alguém. Tudo bem, compartilhar com os outros o que gostamos de ouvir é corriqueiro, mas montar uma playlist é outro rolê. É preciso fazer um recorte no meio desse caos todo e delicadamente pegar pedacinhos, colando minuciosamente tornando essa composição uma lista com sentido & intenção. Alta Fidelidade tem uma citação muito boa, que diz: ‘playlists são como cartas de amor’. Eu ter muita intimidade com cartas é só um detalhe? Vejo que a prática aprimora a arte de montar uma boa coletânea de músicas… afinal de contas, nem sempre um mexidão fica bom para além daquele que vai comer a gororoba da panela. Arriscando ser julgada pelo gosto pessoal, deixo aqui links de playlists feitas por mim. Se você não usa Spotify, acessa então essa lista aqui, feita no youtube, só com músicas chamadas Hold on.
fotolog mixtape: antes do querido fotolog ser apagado, corri e reli todos os meus posts, salvei todas as fotos e textos e ainda montei essa playlist com as músicas que postei ao longo dos anos;
stellar, o blog: revisitei meu blog mais antigo, lendo post a post, juntei as referências musicais nessa lista;
festinha debutante: num papo animado nos Valekers (sobre eles aqui), a galera da turma do cometa relembrou como eram as festas no final dos anos 90/início dos anos 2000 e me inspirou a reunir as músicas nessa lista, ainda em construção.
Um abraço e nos vemos na próxima edição,
paulamaria