Oi!
Costumo viver o mês de junho como aqueles especiais de tevê por assinatura, tipo A semana do tubarão no Discovery Channel, sabe? Estendo para o mês todinho as comemorações em torno do meu nascimento, porque sim, é a coisa mais importante dentro do universo que mora no meu umbigo. Porém, desde o fatídico 2020 e o fim do mundo como a gente conhecia não consigo mais viver tão intensamente. Também, pudera. Sobrevivemos.
Fico com Paulinho Moska e penso que “É tudo novo de novo/ Vamos nos jogar onde já caímos/ Tudo novo de novo/ Vamos mergulhar do alto onde subimos”. Que venha o começo da próxima década, tenho mais um finalzinho dos trinta para fechar a aventura do primeiro triângulo da vida.
Se quiser me presentear, pode: enviar um pix; dar algum livro dessa lista ou oferecer uma música nessa playlist. De qualquer forma, meu coração está e estará sempre aberto para receber bons desejos e agradeço desde já por sua leitura e companhia por aqui.
Parabéns pra mim e boa leitura!
Render-se aos ridículos
Minha geração dizia <pagar mico>. Na pré-adolescência, pagar mico era a última coisa possível, evitava a todo custo virar piadinha dos pestinhas da sala e tentava disfarçar que ainda não era gente grande (e alguém era?). Noutro dia me peguei lembrando de quando aos mais ou menos doze anos deixei cair um absorvente no corredor da escola. O troço ficou ali, no meio do caminho, e ninguém se atrevia a pegar. Neguei, claro, que o objeto fosse meu. Outras colegas também. Deus nos livre de menstruar, amém. É engraçado pensar que hoje, quase sempre quando estou <nesses dias> saio falando a torto e à direito <não, mas porque eu tô menstruada e aí você sabe né>. Etc e tal.
Deixar o tempo passar (a gente deixa?) é abraçar que os ridículos acontecerão e em geral não são evitáveis. Os <micos> evitáveis em 2025 são muito diferentes daqueles em 1998. Minha bússola moral mudou, afinal eu só tinha doze anos e estava me dando conta de que era uma pessoa. Se tornar uma pessoa é um rolê danado. Fico feliz de ter perdido o medo de parecer ridícula, pois na verdade, o medo era de não poder ser eu. A quase quarentona de hoje pode mandar esse recado para o passado: menstruar é chato, mas não é vergonhoso. Você vai aprender, mini paulamaria.
Perdendo dentes
Sonho constantemente que todos os meus dentes caem. A começar pelos incisivos centrais superiores, esses do meio, sabe? Só de encostar, seguro delicadamente e eles <puf>, ficam entre meus dedos. Incrédula, sigo perdendo dentes, um a um, num misto de terror e passividade que me assustam quando acordo. Desde criança tenho bruxismo e no meu caso, ranjo e aperto os dentes uns contra os outros durante o sono. A visita anual ao dentista sempre me rende o reparo das bordas, em especial nos fatídicos incisivos centrais superiores. Ano passado porém, após passar pelo (até então) pior luto da vida, quebrei cinco dentes. Talvez um preço baixo perto de perder alguém que nunca mais vai voltar.
Perder dentes é uma boa imagem para o crescimento. Por volta dos seis anos de idade, os dentes de leite começam a cair e aqueles 20 pedacinhos branquinhos de nós dão lugar aos dentes permanentes, grandes, duros e doloridos. Às vezes mais, às vezes menos, em geral um adulto tem entre 28 e 32 dentes. Por enquanto, sobrevivem na minha boca vinte e oito espécimes, quatro arrancados por falta de espaço. Nunca precisei de ter siso para ter juízo. Devia ter ouvido mais à minha avó, que dizia que juízo era precioso, por isso deixava em casa para não perder.
Viver é melhor do que sonhar
Álvaro de Campos, o heterônimo mais intenso e exagerado de Fernando Pessoa, tem um verso que gosto bastante: Meu coração é um almirante louco. Quando menos espero, estou entregue à este almirante, mergulhada em mar bravio de algum sentimento que me toma por completo. Sinto minhas células irritadas e contagiadas, sinto vontade de me olhar num microscópio porque tenho a certeza de que estou vibrando – sem meu consentimento.
Tenho saudades irremediáveis, não apago meu Facebook porque amo revisitar as lembranças que ele traz, acumulo mil tranqueiras de vidas passadas como pequenos tesouros. Sou fanfiqueira da minha vida amorosa, ensaio diálogos que nunca acontecerão e mando recados ao universo para aqueles que já não fazem parte do meu convívio. Percebo, cada vez mais, que sou viciada em viver e construir memórias. E, com sorte, alguma coisa rende e vira texto.
O final que não chegou
Fazer aniversário é se perguntar mais uma vez <como vim parar aqui?>. Do nada me encaminho pro último ano antes de quarentar e a minha vida está dum jeito que jamais pude imaginar. É lindo, é horrível, é o que foi e jamais será de novo.
Desejo ter saúde, um pouco de paz possível e companhia para seguir ainda por muitos anos nessa jornada esquisita e sem sentido que é viver. Enquanto o final não chegar, prometo ser esquisita, animada & cansada, mas, acima de tudo… Curiosa.
Obrigada por me ler e fazer parte das minhas melhores companhias.
Viva viva viva!
Hoje sem revisão, sem drops, sem agenda. Estou à caminho de casa para comer bolo e cantar parabéns.
Um abraço,
paulamaria.
Po! Feliz aniversário!!
Feliz aniversário querida!