A constância que citei algumas edições atrás mandou uma lembrança pra o dia de hoje e pede desculpas pela ausência de textos nesse hiato. É que a vida acontece e tem horas que a gente senta e desfruta da paisagem, ainda que ela seja a tela do computador com palavras soltas e desconexas. Eis que voltei. Ah! E seja bem vinde quem chegou por agora! Pega um café, chá, água (vinho?) e vem comigo. :)
Nessas semanas, acumulei não só edições não publicadas por aqui, mas também um monte de newsletter para ler na caixa de entrada. No meu tempo, fui lendo uma a uma e respondendo. Quem escreve newsletter sabe da alegria que é receber um reply ao texto. Faço questão de responder quando me sinto provocada pela mensagem, quando lembro de um livro/filme/postagem/texto... Além disso, também percebo que ao escrever uma resposta, a troca assíncrona se torna ainda mais interessante para quem escreve a news. Bom... Pelo menos eu recebo as respostas de vocês nesse espírito. <3
Nesse contexto de leituras atrasadas, constatei algo que chamou atenção. A maioria das newsletters que assino são escritas por mulheres, como na época em que os blogs estavam em alta e também como acontece no instagram/twitter: sigo, basicamente, mulheres . E no meio de tanto texto acumulado, uma mensagem em comum nas palavras dessas escritoras: estamos cansadas. E tristes também. Cansadas, tristes, desmotivadas. E ainda assim, presentes.
Corta a cena para seja aquela garota. Existe uma trend no tiktok - aquela rede social de jovem que por força da vontade resolvi fugir - que traz em 30 segundos o ‘resumo’ de uma garota ideal, milisegundos de imagens de alimentação bonita e saudável, exercícios físicos com sorriso no rosto, leitura em dia, skincare religioso, trabalho que dá muita satisfação, casa bonita, férias, roupas harmônicas limpas e bem passadas. UFA. 30 segundos que estão deprimindo tantas de nós. Cansadas. E desejantes em ser, sim, aquela garota.
Corta para a vida real, me olho, de pijamas, cabelo por lavar, xícara suja ao lado do computador. A vida, em cores, movimentos e sons. Uma mulher cansada, eu e você aí do outro lado. Cansada de dizer para a menina que foi, não muito tempo atrás, que tudo tudo tudo que viveu foi o que podia ter sido feito da vida naquela época. E de dizer para si mesma, que já não é mais garota, que as imagens são edições (cruéis). Que ‘aquela’ garota não lhe coube e nem cabe hoje. E que você está aqui, presente.
Sou da geração amaldiçoada pela manic pixie dream girl, quem viveu sabe. O termo foi cunhado por um crítico de cinema a partir da personagem Claire Colburn, do filme Elizabethtown, que, adivinha? É ainda um dos meus favoritos. Uma crítica gostosa sobre o termo você pode ler aqui. A manic pixie dream girl foi a referência de "aquela garota" de grande parte da minha geração e fez muito garoto acreditar que também só seria feliz com uma garota dessas. Haja trauma, terapia e música emo pra sobreviver. E não é que passou?
Dias atrás, assisti a série “De volta aos 15”, na Netflix. Baseada no romance homônimo de Bruna Vieira, o seriado conta a história de Anita, presa entre dois períodos da sua vida, a adolescência e o começo da vida adulta. Tem viagem no tempo, tem inspiração em ‘de repente trinta’, tem trilha sonora deliciosa do início dos anos 2000, tem produção brasileira de ótima qualidade. A identificação com Anita foi grande, principalmente pela referência que de certa forma, critica a referência da manic pixie dream girl e mostra a intensidade da luta interna que é para a juventude em buscar ser quem se é.
Ser quem a gente é continua cansando na vida adulta, não é a tôa que tenho lido tanto sobre isso aqui na minha bolha. Nos últimos anos então, percebo que o cansaço se intensificou, na contramão dessas trends goodvibes (ê ódio!). Dia desses, revisitei poemas que escrevi entre 2020 e 2021, e em quase todos expresso medo e exaustão. Aí volto para aquela garota. Como é possível esse tipo de conteúdo viralizar, depois de tudo isso que passamos? Como é possível, mesmo depois de superar a manic pixie girl, construir um ideal ainda mais cruel e injusto para nossas garotas? Assisto esses modismos com muita tristeza e com uma vontade enorme de pegar na mão de cada menina atrás da tela e dizer: não viva das mentiras dos outros, já te bastam as suas. Seja você.
Na onda dos joguinhos de palavras, esse aqui me deixa intrigada
Escrevi sobre Léxico Familiar, de Natalia Ginzburg, lá no meu insta de psicóloga
Tive a honra de ser citada, com o projeto teescrevocartas, em duas news: Outra Cozinha, da Carla Soares e na flows magazine, da Luciana Andrade
O jornalista Bruno Torturra voltou com suas lives (<3) e tem trazido discussões importantes para 2022. Toda quinta no canal do Estúdio Fluxo
Um fio sobre porque backstreetboys é a melhor boy band de todos os tempos
A Isabel Carvalho ainda tem vagas no seu maravilhoso curso de mulheres na história da arte
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Um abraço e até a próxima edição,
paulamaria.