Sou uma pessoa que não acredita em coincidências. Desde pequena, os acasos despertam muita curiosidade e atribuí significado místico e mágico a eles. Ainda não tinha uma palavra exata pra definir esse misticismo das coincidências, mas depois de grande descobri que na Psicologia isso até tem nome: sincronicidade, cunhada e estudada por Carl G. Jung. Quando criança, ficava intrigada com o encaixe perfeito dessas situações, era curioso e também me dava um conforto inexplicável. Em outros momentos, me pegava pedindo um sinal divino quando precisava tomar decisões para que não fossem cálculos frios mas que também tivessem um “sentido” maior. Talvez a busca por esses sinais fosse um jeito fajuto de ancorar minhas decisões em algo/alguém para me sentir menos sozinha nelas… Sei que hoje ainda carrego este costume, mas agora chamo de intuição, que ajuda a seguir em frente muito mais leve e satisfeita.
Outras magias fizeram parte de minha infância. No pedaço de quintal que sobrou entre a minha casa e a dos meus avós, brincava com minha irmã de fazer pequenas misturinhas e poções mágicas. Pensava de verdade que estava fazendo magia como as bruxas de desenho em seus caldeirões, afinal de contas, as folhas maceradas com água e terra tinham cheiros e cores, talvez até servissem para fertilizar plantas, quem sabe? Lembro que guardava essas misturas em potes que catava entre as quinquilharias da oficina do meu avô - da poucas coisas que ele deixava a gente brincar - e as etiquetava com nomes que eram abreviações dos ingredientes. Se havia terra, folha de caramboleira e água, provavelmente seria “tfca” ou algo similar. Na época, meu pai era dono de uma pequena farmácia também. Não sei se eu fazia a relação de fármacos com poções mágicas, mas hoje o cenário faz bastante sentido quando costuro essas memórias. Coincidência? Sincronicidade? Magia?
"bem plausível que a glória da vida esteja sempre à disposição de todos nós, porém oculta dos nossos olhos, distante, nas profundezas. Mas ela está lá e não é hostil, nem arisca, nem surda. Basta chamá-la com a palavra certa, com o nome certo, que ela vem. Essa é a essência da magia, que não cria nada, mas invoca. FRANZ KAFKA, Diário, 18 de outubro de 1921"
Com minhas poções de quintal, imaginava e invocava minhas pequenas magias. Depois da infância, cultivar a bruxinha dentro de mim teve algumas fases, mas nunca a perdi de vista. O gosto por rituais, pela literatura, pela estética da magia sempre estiveram presentes. Alguém aqui também era fã da Bruxa Onilda? E da primeira versão de Sabrina, a aprendiz de feiticeira? Não posso deixar de citar o icônico filme Jovens Bruxas, que deixou a paulamaria adolescente em frisson por aqueles looks e rituais com as amigas, e além disso, era moda entre as garotas da minha idade estudar Wicca - confesso não ter me aproximado tanto porque ainda era muito católica para algumas coisas. Corta a claquete da vida para a adultez que ampliou meu olhar no mundo mágico e me trouxe o contato com tarot, incensos, óleos, chás e a magia de volta pro meu dia a dia.
Desejo que você possa se sentir inspirada a procurar um tico de magia no seu dia a dia, que alimente seus rituais e a bruxa e a feitiçaria que habita no coração de todas nós. Termino com uma intrigante citação do Alberto Manguel, do maravilhoso “Notas para uma definição do leitor ideal”:
"provérbio latino verba volant, scripta manent tem dois significados. Um é que as palavras que dizemos em voz alta têm o poder de alçar voo, enquanto as que estão escritas permanecem incólumes na página; o outro é que as palavras ditas se desvanecem no ar, enquanto as escritas adquirem vida nova quando um leitor as invoca."
Invoque sua magia: escreva, mande para o mundo. E pode mandar para mim também, aqui ó: https://www.instagram.com/teescrevocartas/
Um podcast para aprender sobre magia e outras coisas interessantes: Magickando
Leitura de Bruxa Onilda vai a Paris, livro da minha infância
A nova temporada de Handmaid's Tale (O conto de Aia) está chegando este mês. Nolite te bastardes carborundorum.
Um abraço e nos vemos na próxima edição,
paulamaria.